sábado, 10 de abril de 2010

O dilema de Clara

Clara está me pleno calçadão da Rua Halfeld na cidade de Juiz de Fora, que fica no estado de Minas Gerais, conhecido por sua natureza exuberante repleta de montanhas, cachoeiras, pastos verdejantes. Está chovendo. A chuva é fria e contínua. Seus sapatos estão molhados e seu guarda-chuva está com defeito, molhando o lado esquerdo do corpo de Clara. Ela veste um jeans surrado e uma blusa de moleton - que está úmida. A chuva, a umidade em sua roupa, a noite mal dormida, nada disto importa, pois tudo o que pensa neste momento é no convite que recebera, do seu patrão, para ir, em uma pequena viagem a Itatiaia - em segredo.
Caminhando depressa, Clara somente é arrancada de seus devaneios românticos quando derrapa e quase cai no chão do calçadão. Ela está cansada de saber que, em dias chuva, o piso fica escorregadio, talvez - ela pensa - por ser feito de pedras portuguesas. Um dos pequenos prazeres que Clara tem, é caminhar, quaisquer seja o clima/tempo, naquele calçadão, que é considerado o coração da cidade, passagem obrigatória a todos que residem em Juiz de Fora.
Clara aprendera gostar desta cidade, apesar de todo seu provicianismo, porque nela tudo faz lembrar que existe a chance de vencer, mesmo que isto - ela bem, sabe- seja meia verdade.
Antes, quando era apenas uma adolescente tinha um sonho: morar na cidade o Rio de Janeiro. Na verdade Clara sempre sonhara em  viver sua vida de solteira em uma cidade pujante,caliente, que acreditava ser  a Cidade Maravilhosa, o Rio de Janeiro, romanticamente idealizada por ela devido as inúmeras odes ouvidas por ela ... Várias vezes pegava se a cantar  " ... olha que coisa mais linda , mais cheia de graça..." e isso alimentava ainda mais seus devaneios ...
No seu romantismo inocente, imaginava-se desfilando pela orla de Ipanema com bronze dourado e dançando na velha e conhecida zona bôemia carioca, com seus bailes estilo gafieira, tal o baile do Cordão da bola preta. 
Idealizava-se dançando grudada aos corpos dos lindos meninos do Rio... Quando Clara lembra disto, suspira e ri de si mesma. Ah! A realidade de sua juventude- adulta é mais inóspita, do que aquela imaginada nos áureos tempos infanto-juvenis.
Clara enfrenta  dilema:  ir ou não em uma viagem. Aceitar tal proposta, significaria em parte a realização de seus velhos sonhos, pois é ele a imagem personificada daqueles cariocas de permeavam suas fantasias juvenis. Ela pensa nas implicações desta decisão. Cansada de ser frustrada, quer ir. Viajar seria o marco de uma pequena realização - das tantas que ainda não conseguira. 
Sabe que  se for a esta viagem, ao menos uma vez realizaria algum desejo - com a benesse de dar vazão a paixão contida, mas intensa, que sente a algum tempo por professor- 12 anos mais velho casado.
Eis a questão: ele é casado e, pior ainda famoso pegador das funcionárias.
Como lidaria com isto?
Naturalmente, ele não se separaria de sua esposa para com ela ficar, disto tem certeza.
Ela pensa que ficaria com aquele peso na consciência, ou - pensa  - que talvez aquilo seria um combustível para  executar seus planos audaciosos de mudar. Seria o pulo do gato.
Ah! Talvez com essa atitude lhe dê coragem, ânimo, para ousar mais...talvez, talvez tantas outras coisas...
Por enquanto,  não quer pensar na decisões. Quer apenas fantasiar, imaginado todos o detalhes desta viagem, as roupas que levaria, as lingeries que usaria, os lugares que frequentaria... Quanto a decisão...esta  poderá ficar para depois... agora, acabara de chegar na conservadora em que trabalha e o barulho do cartão de ponto, do telefone que toca ininterruptamente, da secretária lhe dirige uma reprimenda, de modo arrogante, dizendo-lhe que os funcionários já estão perguntando sobre o preparo do café,  afasta qualquer ensejo romântico. 
Salva pelo gongo! 
Bendita é realidade, que alivia o peso das decisões!

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